A coxinha do Pedrinho. Texto e reflexão de Ana Luísa Alves Lima.
Bom dia minha rede do bem, hoje abri o facebook e me deparo com um texto compartilhado no grupo Lancheira Saudável, grupo querido e de alto conteúdo. O texto é da Ana Luísa Alves Lima, uma história real.
Eu não conseguia parar de chorar ao ler, primeiro porque me veio a memória dos dias que Bêzao ficou internado por síndrome de kawasaki e de tudo que eu poderia fazer por ele e pela comemoração na saída do hospital. Pegamos emprestado o carro amarelo do vovó porque ele amava e passeamos pela orla da praia de Salvador. Foi muita alegria e de tão cansado ele dormiu no carro. De tanto medicamento, de tantas furadas no braço, de tantos exames, de tanto castigo numa cama, sem espaço, sem brinquedos, sem sua casa... Uma coxinha não é nada..
Mesmo eu sendo a idealizadora do blog Comidinhas de Bebê, não sou radical, e me vi nesta mãe... Eu queria abraçar esta mãe que hoje está radiante de alegria pela saída do seu filho do hospital. Xô tapioca com suco verde! Por mais coxinhas! Xô olhares maldosos, xô mães amargas, por mais amor, por favor.
Vale a pena a leitura abaixo:
A coxinha do Pedrinho.
Sento eu, 6:05h da manhã na padaria para tomar meu café e ler meus jornais do dia.
Ao levantar a cabeça, cruzo com um menino `a minha frente, sozinho, com uma tremenda coxinha no prato esperando alguém para devorá-la. Ele me olha encabulado, eu ofereço um sorriso e penso - Nossa, queria eu estar comendo aquela divina coxinha! Na sequência, a mãe do menino que estava ao balcão, retorna e se senta na frente do filho. Retomo a minha leitura.
Ao levantar a cabeça, cruzo com um menino `a minha frente, sozinho, com uma tremenda coxinha no prato esperando alguém para devorá-la. Ele me olha encabulado, eu ofereço um sorriso e penso - Nossa, queria eu estar comendo aquela divina coxinha! Na sequência, a mãe do menino que estava ao balcão, retorna e se senta na frente do filho. Retomo a minha leitura.
Como a padaria estava vazia, percebo que entra uma jovem, que ao se deparar com a mesma cena do garoto e sua coxinha, acena negativamente com a cabeça e solta, quase como um suspiro melancólico um "não acredito". Impossível deixar de ouvir, e impossível não refletir por qual razão a jovem reprovaria o prato alheio. Sim, é muito cedo! Sim, isso não é problema dela!
Sigo lendo meus jornais, quando passa por mim o pedido da jovem: tapioca e suco verde. Penso comigo - vish, ela deve ser uma eco-chata, e no mesmo momento me envergonho da crítica, lembrando que `as vezes peço a mesma coisa!
Retomo a leitura. Antes da jovem sair, ela faz questão de reprovar novamente a mãe do garoto, soltando um "ai ai" que me faz parecer que o dia estava terminando e não se iniciando, como era o caso. O que me deixa inquieta na cena, é a imparcialidade da mãe, que eu momento algum se ofendeu com a intromissão e reprovação daquela jovem. Como a mãe estava de costas para mim, não via nada além do convívio feliz com a criança.
Pedrinho termina a sua coxinha e diz alto - mãe, vou lavar as mãos pois não quero ficar internado de novo, e ao passar, genuinamente pisca para mim. Vejo que em seu bracinho tinha uma daquelas pulseiras que os hospitais colocam na admissão, tanto do pronto socorro quanto na internação, e então saco que o mesmo havia saído de um hospital próximo dali, e aquela estava sendo sua primeira refeição pós alta. Ele está tão irradiante que sua estatura parece grandiosa e iluminada. Ele retorna e dá um abraço longo, entregue e comovente em sua mãe e agradece pela exceção da coxinha, e por ela ter dormido com ele. A cena é tão iluminada e comovente, que passo a acreditar que dita mãe e filho sequer perceberam a presença daquela jovem reprovadora.
Voltei meus pensamentos `aquela moça que repudiou a cena, como se entendesse tudo de nutrição, filhos ou comportamento.
Pois é, nem eu que redijo este texto tenho noção do que aconteceu. Só sei que a alegria daquele garoto comendo aquela coxinha dava gosto; e mesmo que houvessem opções nutricionais mais adequadas para o desjejum, quem somos nós para avaliarmos a vida alheia?
Recentemente um candidato disse que se eleito, iria mandar construir muros em suas divisas, e penso: e nós? Quantos muros construímos com atitudes assim?
A dica que dou para mim e replico aqui é: pense mais, construa diálogos internos e evite julgar o que não conhece nem vivencia. Nem tentando calçar o sapato do outro a gente consegue experimentar a sua dor, razão e escolhas.
Um lindo e ensolarado fim de semana para todos nós!
Ana Luiza
"Herói é o que quer ser quem é."
Ana Luísa Alves Lima.
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